This post is reprinted from the Financial Times.
The debate over the minimum wage in the US is an interesting one. Wages have been falling in real terms for the last 30 years but there is strong resistance to any kind of increase in the federal minimum wage. The social contract in the US calls for a flexible labour market, and market efficiency trumps equality considerations. Not even Nobel Laureates can influence the debate. But there are lessons to be learned from the strong real growth minimum wage policies in two of the Bric countries, Brazil and China.
In Brazil, the minimum wage, in real terms, increased 3.18 per cent a year between 2000 and 2014; in China, it grew at 8 per cent a year, for the average city, during the last 10 years. It is expected to grow 13 per cent a year under China’s current Five-Year-Plan (2011-15), according to the China Labour Bulletin.
There is an interesting paradox in Brazil and China. While the pace of economic growth is expected to slow, both countries have robust labour markets and falling poverty. Some of this is the result of structural policies that target real minimum wage growth.
I usually give a simple task to my students or executives when teaching corporate finance or microeconomics: calculate the minimum efficient scale of a new business, guesstimating its main operating costs. In Denmark, the social contract for fair wages is so strong that students usually estimate significantly higher wages than the minimum wage even for low-skilled labour, arguing that high wages would attract more productive workers. The rationale is diametrically opposite in Brazil and China, where most students, even senior executives, simply assign the minimum wage for the majority of workers and try to minimize the salaries of managers and other personnel.
That is why the minimum wage matters: in many emerging markets, the social contract implies that business owners disregard the possibility of performance-related pay, bonuses, or any form of redistributive policy that would allegedly result in reduced productivity. Meanwhile, unless the minimum wage is set high above the rate for low-skilled labour productivity, it should have no impact on employment.
We know that raising the minimum wage has been an important and overlooked structural policy that had a significant impact on poverty reduction in Brazil and China. Usually, minimum wage policies are viewed throughout a simple dichotomy: higher wages result in lower employment. However, there is scant if any evidence of this, and it would be true only for efficient and fully-functioning labour markets, the kind one can perhaps imagine in some developed countries. For developing countries, minimum wages have a real impact on poverty, even when we consider formal vs informal markets.
Here is what the evidence on the relationship between minimum wage, poverty and unemployment shows us:
- Raising the minimum wage affects formal and informal workers alike: in fact, informal workers – workers without social security contribution – experienced significant wage increases when the minimum wage was raised even while formal workers did not (Khamis, 2013).
- The necessary conditions for a pass-through effect of rising minimum wages on income and not unemployment are: low real minimum wages, a buyer’s labour market, and enforcement capabilities (Ni et al., 2011).
- Minimum wages have significant impact on general wages, but almost no discernible impact on jobs (Schmit, 2013). Evidence from the UK shows that there is some profitability reduction for firms, but no effect on firm exits (Draca et al., 2011).
The minimum wage is a powerful redistributive tool (Freeman, 1996). In Brazil, 30 to 45 per cent of the reduction in income inequality is due to minimum wage growth – although some of the effect is due to the indexation of public pensions to the minimum wage (Gasparini and Lustig, 2011). In China, there is even a productivity boost, with Poncet et al. (2014) finding that minimum wage growth increases the productivity of surviving firms and allows more productive firms to replace the least productive ones, even though it may have an adverse effect in some regions (Fang and Lin, 2013).
There seems to be a case for a prescriptive policy of minimum wage growth as long as the job market is robust. There also seems to be an optimal level of development at which minimum wage growth is an optimal policy – when countries are moving towards middle-income status and the redistributive effect trumps possible effects on unemployment and competitiveness. And too much of it would surely magnify the costs of such a policy, but the idea of doubling the minimum wage in some sectors in India seems a plausible course of action.
Cheap labour in Brazil and China is at its end, most of it due to minimum wage growth. We also have much less poverty because of it. Other emerging markets should follow suit.
References
- Freeman, R. B. (1996). The minimum wage as a redistributive tool. The Economic Journal, 106 (436): 639-649.
- Draca, M., Machin, S. and Van Reenen, J. (2011). Minimum wages and firm profitability. American Economic Journal: Applied Economics, 3(1): 129-51.
- Gasparini, L., and Lustig, N. (2011). The rise and fall of income inequality in Latin America. In Ocampo, J. A. and Ros, J. (Eds.), The Oxford Handbook of Latin American Economics, 691-714.
- Ni, J., Wang, G., and Yao, X. (2011). Impact of minimum wages on employment.Chinese Economy, 44(1): 18-38.
- Khamis, M. (2013). Does the minimum wage have a higher impact on the informal than on the formal labour market? Evidence from quasi-experiments.Applied Economics, 45(4): 477-495.
- Schmitt, J. (2013). Why does the minimum wage have no discernible effect on employment? CEPR Reports and Issue Briefs, 2013-04.
- Poncet, S., Mayneris, F., and Zhang, T. (2014). The cleansing effect of minimum wage: Minimum wage rules, firm dynamics and aggregate productivity in China. CEPII Working Paper, 2014-16.
- Fang, T., and Lin, C. (2013). Minimum wages and employment in China. IZA Discussion Paper, No 7813.
Os limites do Governo.
Publicado em 29 de Janeiro de 2015.
Na visão brasileira o governo é onipotente, é o animador que controla a marionete e que faz tudo acontecer no país. Perdi as contas das perguntas de jornalistas que começam com: hoje saiu o dado X, abaixo das expectativas, o que o governo deveria fazer para resolver esse problema? A resposta, para a maioria dessas perguntas é: nada! Não há nada que o governo deva fazer em resposta a um dado. As políticas econômicas não deveriam ser mudadas ao sabor dos ventos da conjuntura, mas deviam ser pensadas em termos estruturais. O que queremos ser no longo prazo e como chegar lá? De outra forma, devíamos ter mais Estado e menos governo.
Mas que Estado seria esse? No Brasil gostamos do que os americanos chamam de Estado-babá – ou seja, queremos que o governo resolva todos os problemas da sociedade, de um gato preso numa árvore às aposentadorias dos funcionários públicos. Isso vale para as políticas macroeconômicas e em todos os aspectos econômicos e sociais – o Estado brasileiro sustenta parte da produção cultural através da Lei Roaunet, cria diversos grupos de interesse através de leis da meia-entrada e desconto para idosos, e ainda financia parte significativa de ONGs, que no início foram criadas exatamente para complementar o Estado através de ações da sociedade civil, mas que no Brasil acabam recebendo recursos do próprio Estado. Mesmo com nosso Estado onipresente (embora longe de onisciente), muitas pessoas ainda adoram reclamar que pagam muitos impostos e recebem pouco em troca. Mas isso é um mito.
Mito: os brasileiros pagam muitos impostos e recebem pouco em troca.
Isso é um mito porque a capacidade de atuação do governo brasileiro está atrelada a sua capacidade de arrecadação, no longo prazo. Como temos uma das piores distribuições de renda do mundo o financiamento do Estado cai sobre uma parcela relativamente pequena da população. Isso não é diferente em alguns outros países e até nos EUA os 1% mais ricos pagam cerca de 35% do imposto de renda federal. Em qualquer sociedade temos contribuintes líquidos e recebedores líquidos do Estado. Como o Brasil é desigual, é natural que os contribuintes líquidos recebam em troca parcela bem menor do que contribuem. Em um país mais homogêneo, como a Dinamarca, o contribuinte líquido recebe a maior parte do que investiu no Estado de volta, pelo simples fato que sua contribuição marginal líquida é menor pela distribuição de renda ser maior.
Porque essa percepção é tão forte no Brasil, então? Pela simples razão de que em países com melhor distribuição de renda a classe média, por definição, não é nem contribuinte nem recebedora líquida do Estado e, portanto, recebe de volta o que investe em termos de impostos. No Brasil, como a classe média contribui fortemente para o Estado, já que o número de recebedores líquidos é imenso, dada a pobreza e desigualdade do país, ela não recebe E NÃO TEM COMO RECEBER, no curto prazo, recursos de volta iguais aos que investiu no Estado. Somente no futuro, à medida que o Brasil se tornar menos desigual, pelo aumento de renda das classes menos favorecidas, é que a contribuição marginal da classe média vai cair e essa sensação de que pagamos muito impostos vai diminuir.
Ou seja, os brasileiros (contribuintes líquidos) de classe média ou classe alta não devem e não deveriam receber de volta o que pagam. O Estado brasileiro tem que ser repensado. Nunca vamos e nem devemos chegar perto de um Estado mínimo – nós brasileiros gostamos da ideia de uma rede de proteção social ampla, saúde e educação gratuitos e um Estado forte. Só que da forma que o Estado brasileiro está desenhado ele simplesmente não consegue cumprir todas as promessas à sociedade. Por um lado, a capacidade de financiamento do Estado pela sociedade está no limite, com uma relação impostos/PIB de cerca de 36%. Por outro, simplesmente colocamos nas mãos do Estado quase todas as decisões sobre investimentos, regulação e envolvimento na atividade econômica.
Precisamos repensar o Estado para hierarquizar as prioridades. Tomemos o exemplo da infraestrutura, um dos crônicos problemas da economia brasileira. Paulo Vicente, da Fundação Dom Cabral, estima que estamos atrasados cerca de 30 anos em relação ao resto do mundo em termos de investimentos em infraestrutura. O Estado brasileiro simplesmente vai ser incapaz de resolver isso com recursos próprios. Nesse sentido, privatizações, PPPs e marcos regulatórios que alavanquem investimentos privados são fundamentais para acelerar os investimentos em infraestrutura. E isso deve ser feito em larga escala e com planejamento para as próximas décadas. Mas como sair do abstrato? Primeiro elencar as prioridades. Queremos um modelo com transporte público? Caso a resposta seja positiva, deveríamos começar a pensar, por exemplo, em diversas novas linhas de metrô de forma simultânea nas grandes capitais. É difícil? Claro que sim. Mas uma nova linha a cada 20 anos é completamente inútil no longo prazo. Nesse sentido, anéis rodoviários não seriam uma prioridade de longo prazo, ainda mais no caso do Brasil, onde muitas obras já nascem com sua capacidade máxima esgotada. Poderíamos assim, dadas essas hipóteses, justificar uma simples escolha: na nossa agenda não entraria investimentos rodoviários, mas sim em outras formas de transporte público de massa.
O Bolsa Família deu certo. Mas precisamos ampliar as oportunidades pros menos favorecidos (o próximo post é sobre meritocracia e oportunidades). Como maximizar o uso do dinheiro público pra isso? Essa é uma questão fundamental em um Estado com limite de capacidade de financiamento. Precisamos urgentemente de um plano de ação para o Estado que não inclua necessariamente mais recursos. Mas estamos longe de pensar em eficiência. Está mais que na hora de mudar isso.
Que se dane o Curto Prazo.
Publicado em 22 de Janeiro de 2015.
Dane-se o longo prazo. Essa é a realidade brasileira. A taxa de desconto de qualquer ação no Brasil, seja um empréstimo, política pública ou análise econômica, é extremamente alta, levando-se a uma fixação quase doentia no curto prazo. Pulamos como loucos a qualquer número novo que aparece, e usamos esses números para justificar qualquer visão de mundo que tenhamos. Esse é o padrão das discussões econômicas no Brasil: imagine que nessa semana saiu um novo dado sobre a taxa de desemprego. Se ela foi mais baixa que a esperada isso vai ser usado, por um lado, como argumento para mostrar como o Brasil na verdade está no caminho certo e que as teorias conspiratórias sobre a derrocada do Brasil são teorias conspiratórias, e o governo vem acertando na condução da economia. Por outro lado, argumentos vão ser criados para mostrar que na verdade os dados são maquiados pela geração nem-nem, os desalentados e as pessoas esponjas dos programas sociais, o que significaria que, na verdade, o desemprego “real” seria muito maior. Qualquer dado macroeconômico que venha melhor do que o esperado vai ser usado por quem gosta do governo como validação das políticas econômicas e vai ser desconstruído por quem é contra o governo. E vice versa – um número ruim é prova cabal da incompetência eterna do governo, enquanto para seus apoiadores é culpa da conjuntura internacional, forças ocultas, malvados empresários etc.
A realidade é mais simples: “one data point is not Science”, ou seja, um dado sozinho não representa nada, não é tendência de coisa alguma e não diz nada sobre o futuro ou presente do país. O que precisamos urgentemente é definir métricas de longo prazo que signifiquem o norte para políticas econômicas que igualem ao máximo as oportunidades para os indivíduos e preparem a economia para que os mercados aloquem de forma mais eficiente investimentos, sem que o governo deixe de ter participação na formação bruta de capital fixo ou em alguns setores relevantes para o desenvolvimento do país.
Porque temos essa fixação no curto prazo, que existe em outros países, mas é ainda maior no caso brasileiro? A resposta é bastante simples: fomos traumatizados pelo período de hiperinflação e ainda tomamos decisões como se fosse 1992. Não conseguimos nos planejar no longo prazo seja na pessoa física, jurídica, ou mesmo em termos de políticas governamentais (meu livro Vida de Rico sem Patrimônio expande bastante essa hipótese). Nosso horizonte de planejamento é de um mês, ainda falamos em salários mensais e, no máximo, nos planejamos para as próximas férias. Nem os governantes, em sua maioria, com ciclos de quatro anos de governo, conseguem fazer planejamento que vá além do final do ano corrente. Projetos de infraestrutura que requerem ciclos bem longos são bem difíceis no Brasil, pelo menos no modelo atual. E, enquanto o mundo começa a caminhar para decisões que levam em conta o meio-ambiente e seu valor para a sociedade, caminhamos na direção oposta, aceitando a destruição ambiental em nome de um crescimento econômico que nunca chega[1].
Isso parece muito abstrato? Esse é outro erro comum nas análises sobre a economia brasileira – estabelecer críticas ou políticas abstratas e nunca propositivas e concretas. Por exemplo, muitas pessoas concordam que um dos problemas brasileiros é a educação e que deveríamos melhorá-la. Mas poucas pessoas elegem esse problema como premente, porque a solução não pode ser conseguida em poucos dias, meses ou anos. Na hora da eleição é muito mais fácil escolher promessas de obras de saneamento, feitas em meses, do que melhoras na gestão da educação. É quase uma questão de desconto hiperbólico.
Como resolver esse problema? No caso da educação, traçar objetivos de curto e médio prazos que possam medidos. O que não pode ser medido não serve pra nada. O correto então é dividir esses objetivos de longo prazo em objetivos menores e tratáveis, encontrar métricas de sucesso e outras evidências e estabelecer projetos que sejam escaláveis.
Podemos inclusive usar conceitos modernos como os de Lean Start-Up para projetos na área de educação, estabelecendo projetos pilotos que possam ser replicados. Por exemplo, podemos montar uma escola com regras próprias, nos moldes que consideramos perto do ideal, com condições de trabalho decentes, salários maiores, alguma medida (monetária ou não) de remuneração por desempenho, plano de carreira de longo prazo, maior facilidade de demissão de professores ruins (com medidas bem definidas pra isso) e mensuração dos resultados para os alunos. Sabemos que professores melhores fazem muita diferença (trabalhos importantes podem ser lidos aqui e aqui), e que a garantia de estabilidade sem contrapartida cria desincentivos à melhora de desempenho. Sabemos também que o número de professores bons é pequeno e, portanto, devemos expandi-lo rapidamente. Como fazer? Tornando o emprego mais atraente. Mas é um erro achar que tornar a profissão mais atraente é simplesmente pagar salários mais altos. Dentro do sistema atual isso significaria aumentar o salário de todos os professores, bons e ruins, o que é impraticável e não resulta em produtividade ou eficiência. O ideal é uma combinação de prêmio por produtividade E plano de carreira de longo prazo bem definido, além de vários elementos de desenvolvimento profissional, como treinamento, feedback, colaboração e observação durante toda a sua carreira. Salário sem expectativas de longo prazo significa muito pouco. E, mais ainda, nada disso é possível sem melhora na gestão das escolas. Mudar tudo isso envolve quebrar diversos grupos de interesse, desde sindicatos até gestores municipais, e o resultado só apareceria no longo prazo. Precisamos redefinir a carreira dos professores, tornando-a atrativa e pensando no longo prazo, e não buscar soluções paliativas como simplesmente entregar mais recursos, sem gestão, à educação. Ou seja, colocar uma regra como 10% do orçamento para a Educação é irrelevante. Não resolve nada a não ser aumentar o incentivo ao desperdício de recursos.
O mesmo vale para diversas outras áreas. Qual o modelo de longo prazo que queremos? Como podemos dividir os passos para chegar nesse modelo? Como pegamos experiências internacionais e outras evidências para chegar lá? No Brasil sabemos que não queremos ser, para ficar em uma simplificação grosseira, um país de individualistas como nos EUA ou coletivistas, com extrema rede de proteção social, como os países da Escandinávia. Queremos soluções que façam sentido para um país de classe média baixa que gosta de rede de proteção social, mas cuja desigualdade de renda previne soluções demasiadamente coletivistas. Ainda muito abstrato? Quando chegarmos nas proposições de políticas essas ideias gerais deverão ser traduzidas em propostas concretas de ação. Que se dane o curto prazo e que venha o longo. Precisamos de modelos de decisão para isso.
[1] Saímos de uma matriz energética razoavelmente limpa para uma em que usamos cada vez mais termelétricas movidas à gás e carvão e tudo isso sem resolver nosso problema crônico de falta de energia segura e barata. Nossa matriz energética atual é o fruto dessa falta de visão de longo prazo. Enquanto na Alemanha, Dinamarca e mesmo na China há uma preocupação em melhorar a matriz energética, simplesmente não há plano de longo prazo para isso no Brasil. Tivemos uma crise em 2001, com racionamento, e nem assim aprendemos.