Precisamos reformular a política comercial do Brasil. Isso passa por abandonar ou reformular o Mercosul, negociar acordos bilaterais de comércio e, em último caso, criar um fundo temporário de ajuste às perdas comerciais.

Não precisamos de exemplos de como os produtos estrangeiros são caros no Brasil. O contraponto é que os produtos brasileiros também ficam caros no exterior – sem participar das cadeias produtivas globais a indústria brasileira fica menos competitiva e perde espaço no mundo. Em um cenário de desvalorização cambial, como atualmente no Brasil, as exportações que aumentariam a demanda agregada não vão crescer como seria de se esperar pelo fato de que o Brasil continua sendo o país mais fechado do mundo ao comércio internacional.

Abandonar ou liderar uma reformulação do Mercosul não é reconhecer o fracasso de um acordo que pretendia levar os países que assinaram o acordo ao século XXI, mas sim que hoje o Mercosul é um paquiderme imóvel que não parece caminhar a lugar algum. É importante reconhecer que o Mercosul teve um papel importante em estreitar os laços comerciais, econômicos (como movimentação de pessoas) e políticos entre os países da região, mas nos últimos cinco anos simplesmente caminhou para trás. Em maio de 2012 o Brasil aumentou a tarifa máxima de 100 produtos para 35% (antes estavam entre 12 e 13%), enquanto em 2011 a Argentina aumentou para 600 os produtos sem licença automática de entrada no país, uma barreira não tarifária que caminha na contramão dos processos de abertura comercial que acontecem no mundo.

Enquanto há uma renascença em acordos comerciais bilaterais e multilaterais no mundo, nos últimos cinco anos o Mercosul simplesmente não saiu do lugar e nem parece que vai sair. A negociação com a União Europeia é natimorta e não parece haver vontade política para qualquer acordo de livre comércio – de fato, acontece o contrário, com medidas protecionistas e indícios de retaliação entre os dois maiores países do bloco, Brasil e Argentina.

Reformular o Mercosul para que o bloco seja mais agressivo na busca de acordos comerciais seria a melhor solução. Hoje, por exemplo, o bloco é cada vez menos importante nas relações comerciais brasileiras e nada indica que isso vá mudar. O gráfico mostra as relações comerciais entre o Brasil e o Mercosul nos últimos dez anos, em participação no total da pauta brasileira.

Participação do Mercosul no total exportado e importado pelo Brasil – 2005/2015.

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Podemos ver como o Mercosul é o destino de cerca de 10% das exportações brasileira, enquanto as importações brasileiras do bloco tem diminuído, como proporção do total, no tempo. A maior parte dos ganhos comerciais da integração intra-bloco, como o aumento do comércio intra-industrial, já ocorreu. Não há razão para buscarmos maior integração intra-bloco e o futuro do Mercosul deveria estar em acordos multilaterais. Poderíamos fazer parte do Trans-Pacific Partnership e chegar ao século XXI, em vez de retroceder com protecionismo barato e até chegar ao ponto de negar a participação no novo acordo sobre bens de tecnologia de informação (Information Technology Agreement), assinados por 80 países em julho desse ano

Pode ser que tenhamos que abandonar um acordo comercial, o Mercosul, para aumentar o livre comércio no Brasil. Mais um paradoxo da nossa turbulenta história e reflexo do nosso distanciamento do mundo. Enquanto permanecermos fechados continuaremos a destruir nossa indústria e perder oportunidades, como a da recente desvalorização cambial. É um erro achar que o protecionismo mantém nossa indústria viva – ela está morrendo não somente pelo câmbio valorizado até pouco tempo, mas pela falta de competitividade e produtividade, consequências de altos custos internos e falta de exposição à competição internacional. Precisamos usar a crise recente como estopim para reformas estruturais – uma delas é a maior integração comercial. Com ou sem Mercosul. O ideal seria um movimento conjunto com os outros países do bloco para acordos comerciais com outras partes do mundo. Mas se não houver vontade política dos outros países em avançar nas discussões de livre comércio, ruim sem o Mercosul, pior com ele.